História

Freguesia da cintura urbana de Guimarães, localizada na orla setentrional da cidade, Azurém tem conhecido assinalável crescimento dos pontos de vista urbanístico, demográfico e económico nestes últimos decénios, visto que foi para aqui dirigido o principal ímpeto de expansão da urbe. Com os seus quase nove milhares e meio de habitantes, a freguesia de Azurém preserva ainda, no entanto, alguma da sua ancestral ruralidade, sobretudo na extremidade nordestina do seu território. Este último, ocupando uma área de sofrível extensão, é delimitado pelas con¬géneres Pencelo (a noroeste), S. Lourenço de Selho (a norte), Alão (a nordeste), Mesão Frio (a leste), S. Jorge de Selho e Oliveira do Castelo (a sul), Creixomil (a sudoeste) e ainda Fermentões (a poente). 

Com uma topografia relativamente plana e chã, esta freguesia insere-se na pequena bacia orográfica do rio Selho, afluente da margem esquerda do Ave. Abarcando excelentes trechos de férteis solos agrícolas, em área de veiga, esta freguesia é hodiernamente marcada, a nível económico, pela acentuada proliferação de unidades industriais dos sectores têxtil, das confecções e vestuário. Comércio e serviços vão igualmente detendo um considerável peso.
Já Francisco Martins Sarmento, pelos finais do século passado, se havia debruçado sobre o passado remoto deste rincão, muito concretamente em relação a um presumível recinto fortificado castrejo conhecido por “Lapa da Mulher”. A toponímia local poderá, inclusivamente,aludir a vestígios ainda mais recuados, conotáveis com o megalitismo, isto a aceitarmos a sugestão do articulista da “Grande Enciclopédia”, quanto a “Arcela” (suposto diminutivo de “Arca”, por sua vez conotável com estrutura dolménica). A primeira e mais recuada notícia documental a Azurém surge, por seu turno, já em 959, no famoso testamento efectuado pela poderosa Condessa Mumadona Dias a favor do cenóbio por ela mesma havia instituído em Guimarães. Ali se regista a “villa de Asoredi” (topónimo cuja etimologia se poderá justificar,não obstante aquela irregular grafia, em “Osoredí” – um genitivo de nome pessoal “Osoredus”).

Esta propriedade rústica senhorial – a “villa” Asoredi – cons-tituir-se-á portanto como espécie de embrião da futura paróquia “de Sancto Petro de Asorei”, assim registada nas “Inquirições” de 1220 em “terra” de Guimarães. Mais interessantes se revelarão as “Inquirições” ordenadas por D. Afonso III, em 1258, já que noticiam diversos reguengos avulsos “subtus castellum de Martilom”. Este “castelo” será, segundo o enciclopedista, provavelmente o mesmo que H. Beça cita nesta passagem: “A três quilómetros de Guimarães… existe um minúsculo e curiosíssimo castelo roqueiro, antiquíssimo também… O castelo de Azurei ou de Pousada foi morgadio dos Peixotos de Pousada, antiquíssima família nobre que remonta a D. Sancho II. 

O castelo diz-se ser coevo da fundação da Monarquia, só, todavia, podendo assegurar-se que já existia no século XV”. Parecendo desconhecer estes factos, Correia de Azevedo aludirá, mais recentemente, à Casa de Pousada, nestes termos: “assenta sobre penedos e é caracterizada por uma torre de grossas paredes rasgadas por janelas góticas geminadas”. 

Tudo leva a crer que esta estrutura, de cunho arquitectónico baixo-medieval, seja mais um dos numerosos testemunhos das torres senhoriais, residências fortificadas (ou apêndices destas) que se terão vulgarizado nesta região de Entre Douro e Minho a partir de finais do século XII (Mário Barroca). 
A Igreja Paroquial de S. Pedro de Azurém é um imóvel de modestas dimensões e singela traça, dotado de um torreão sineiro adossado ao flanco meridional (e em posição ligeira-mente recuada em relação à frontaria). Referindo-se provavelmente ainda a um anterior templo (o actual será já oitocentista), X. Craesbeeck noticiava, escrevendo por 1726, ser a mesma uma vigararia da Colegiada de N. Sra. da Oliveira. 

Está em construção um novo espaço para o culto a Deus Pai. No aro da freguesia arrolam-se ainda no património religioso a Igreja de S. Dâmaso (junto ao Castelo) e a Capela de N. Sra. da Conceição. Fortemente urbanizada, Azurém integra agora, para além dos tradicionais bairros da Madre de Deus, Monte Largo e Pegada, as novéis urbanizações das Quintas, S. Pedro, Sobreiro, Cancelas da Veiga e Conceição, bem como o polo Universitário de Guimarães.
in “Silva, João Belmiro Pinto da, ‘Guimarães – Nas Raízes da Identidade…’, Anégia Editores, ed. lit., 1999